Condutor está associado a projectos bem conhecidos do público em geral, como Ngonguenha ou Buraka Som Sistema, mas há um outro projecto que está por detrás de vários sucessos dentro da cultura urbana PALOP e que tem passado ao lado de alguns. Falemos de Mo’Kubiko.
Das várias produções caseiras que acabam por nunca sair do estúdio montado no quarto, nos anos 2000 surgiu a ideia de criar uma estrutura de suporte a artistas que precisavam de apoio para materializar e divulgar os seus projectos.
“Comecei a trabalhar com um grupo de artistas que, por terem uma verba muito curta, precisavam de um sítio para gravar em que se sentissem à vontade para desenvolver as suas ideias. E comecei a trabalhar com dois/três produtores, juntávamo-nos em casa e desenvolvíamos vários conceitos. O primeiro trabalho que fizemos em grupo foi o primeiro disco do conjunto Ngonguenha, feito em 2002”, explica-nos Condutor, numa entrevista à Outro-Nível, no seu estúdio na Linha de Sintra.
Tenho recolhido lucros maravilhosos, não só monetários mas a nível de experiência” |
O nome apareceu assim mesmo, de fazer as coisas no seu kubiko “sem ter que estar a sair para fazer outsorcing“.
“Desde aí, aconteceram muitas coisas na minha carreira profissional e no currículo do Mo’Kubiko. O MCK foi o primeiro a passar pelo projecto, depois o Conjunto Ngonguenha, Valete, Buraka Som sistema… percorremos o mundo.”
Contudo, o vasto currículo do projecto só começou a ter reconhecimento há pouco tempo como sendo uma iniciativa independente dos Buraka Som Sistema ou do próprio Condutor. “Tenho recolhido lucros maravilhosos, não só monetários mas a nível de experiência. Trabalho com pessoas de Inglaterra, Cuba, Cabo Verde, e há um feedbackespectacular ao trabalho que faço. O conceito do Mo’Kubiko é basicamente fazer um espaço de produção, de desenvolvimento de maquetes, onde as pessoas vão com as ideias, dizem qual é o público alvo que querem atingir e onde querem que a música chegue, e nós trabalhamos dentro do que o artista quer para chegar a um consenso.”
O nome apareceu assim mesmo, de fazer as coisas no seu kubiko “sem ter que estar a sair para fazer outsorcing“.
Actualmente, há 12 produtores a trabalhar no Mo’Kubiko. A junção desse grupo passa por um trabalho de pesquisa e de encontros fortuitos. “Eu passo muito tempo a pesquisar e há muito pessoal que tem muito trabalho em casa, como eu mesmo tive há uns anos. Tipo dois mil instrumentais mas que não estão a sair. E acabo sempre por “chocar” com bons artistas que andam por aí e com boas ideias e que acabam por não ter continuidade nessas ideias. São artistas que têm muita coisa boa mas que o formato de produção não funciona tão bem. O que faço é praticamente um bom show case. Não é propriamente uma empresa de promoção nem nada do género mas consigo fazer com que a música deles saia do quarto ou da rede de amigos e vá parar num patamar diferente. O que acaba por ser também rentável. É uma oportunidade. Quem me dera a mim, em 1999, ter tido alguém que me empurrasse e se calhar hoje em dia já teria três casas pagas e dois carros. Não é o caso”, diz o artista largando uma gargalhada.
O principal ponto a favor do Mo’Kubiko é a sinceridade e a distinção entre amizade e trabalho: “O que acho que faz as pessoas nos procurarem é exactamente por não existir o filtro do amigo ou o filtro do lucro. O pessoal chega com as maquetes muitas vezes muito mal desenvolvidas e vai obter uma resposta real do nível em que a música dele está e até aonde é que podemos desenvolver.”
“Existe uma certa ideia de que eu trabalho com um pessoal elitista” |
Na “linha de montagem” há o próximo disco de Eva RapDiva, o trabalho de uma artista de Cabo Verde chamada Nitry, e outros projectos com a também cabo-verdiana Creolo Ideias.
Ser membro dos Buraka ou do Conjunto Ngonguenha, do qual também fez parte Luaty Beirão, ajudou a construir a ideia de que Condutor é de certa forma elitista e que escolhe a dedo os artistas com quem trabalha. Mas na prática não é nem de longe o que realmente acontece. “Existe uma certa ideia de que eu trabalho com um pessoal elitista, revolucionário ou consciente, mas eu não tenho barreiras. Eu posso trabalhar com os “Bala Skuad” e amanhã ir trabalhar com o NGA, Capicua ou Plutónio. Não há barreiras na minha cabeça.”
Sobre o maior envolvimento com o movimento hip hop do que com outros estilos musicais, Condutor quer começar a apostar cada vez mais noutros géneros, porque acredita que ao afastar-se da sua origem vai acabar por renovar as bases e descobrir novas sonoridades para juntar às suas raízes urbanas. “E estou cada vez mais ambicioso. Gostava muito de estar em estúdio com o Rodrigo Leão, por exemplo, ou com o mestre do semba Betinho Feijó. São pessoas com quem acredito que poderíamos dar um salto musical muito grande. O Mo’Kubiko é isso, uma coisa muito difusa em que os mundos parecem tão distantes mas que na verdade são muito mais próximos do que o que pensamos.
Para conheceres melhor os trabalhos criados pelo Mo’Kubiko, com o apoio de Condutor fizemos uma apanhado de alguns hits de vários artistas que têm a assinatura do projecto.
Vê o vídeo.
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